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Será!?

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    "Zé"
  • 28 de ago. de 2020
  • 9 min de leitura

Atualizado: 29 de ago. de 2020

"Vivemos tempos muito esquisitos... "

Será!?


Muito se tem falado sobre como estes últimos meses têm sido estranhos e como teremos que encarar o futuro com base na incerteza presente.


Independentemente da politização do que tem acontecido, não consigo entender a surpresa em torno da nossa inabilidade para resolver certas e determinadas questões. Esta ideia de que somos alphas é baseada numa mera ilusão que criámos coletivamente em função do que consquistámos em 250/100 mil anos de acordo com as várias teses existentes (acredite-se nelas ou não...). Ao longo desta referência temporal fomos esquecendo as nossas limitações uma vez que a nossa "caixa dos pirolitos" ia desenrascando alguma coisa para nos fazer ultrapassá-las de forma mais fácil e com isso nos auto-intitularmos de superiores e começarmos a viver a nossa pseudo superioridade perante os outros seres vivos com arrogância, culminando mesmo, na "expropriação continuada" até aos dias que correm.


É perfeitamente natural que em condições muito desfavoráveis, entenda-se, andarmos meio nus, sem paredes, teto, portas, janelas e com uma mortalidade infantil acima dos 90%, fossem realizados esforços para conquistar terreno na "cadeia alimentar", ainda que esse terreno apenas tenha sido conquistado num plano teórico, o nosso espaço foi sendo conquistado.


Se tiverem dúvidas relativamente ao fato de ser meramente teórico, tentem fazer um braço de ferro com um Urso (não, não é com aquele gajo que detestam no trabalho, um Urso Pardo mesmo, parecido com aquele das lojas Natura, mas pesa 600kg e tem um "ronronar interessante").

Face à nossa gritante alteração de estado, é fundamental repensar o nosso caminho. Nós somos insignificantes, repito: Insignificantes. Nós somos um bicho tonto que anda a palmilhar/rolar/"hoverboardar" por aí sem saber efetivamente o que somos, como estamos, o que queremos e para onde vamos porque perdemos a nossa essência e identidade coletivas enquanto "humanos". Esta transição abrupta de ego coletivo para individual foi sendo fabricada, de forma consciente ou inconsciente (não quero ser acusado de apoiar teorias da conspiração), em função de "outras forças" que se valeram da nossa desorientação e incapcidade de discernir.


Embora não pareça, ainda temos essa capacidade... Sim, ainda...


Agora pergunto: Como é que acham que alguns/mas tipos/as minimamente pensantes, empático/as e sensíveis vivem neste lôdo?

A resposta é simples, não há uma resposta. Nem os que aceitam esta doença de "viver assim" vivem, quanto mais os outros...!?


Para introduzir a coisa, temos que regressar às nossas raízes de "trogloditas", que nunca deixámos de ser, apenas suprimimos essa parte da nossa psique.


Como trogloditas, e mais recentemente, como "proto-deuses" (mas só na nossa cabeça) o medo e a contemplação sempre estiveram de mãos dadas, ou seja, grande parte dos nossos grandes medos e crenças são fundados no que não dominamos, e por isso, procuramos respostas incessantemente, sem percebermos, que muitas coisas nunca terão resposta. Desta forma, cria-se uma espécie de microcosmos na nossa mente, que como todos os universos (aka cosmos), é infinito, e por isso, dada a finitude de horizontes que nos é cultivada na forma de ser e estar em sociedade, facilmente se entende que a coexistência entre o corpo e a mente nos dias que correm está mais do que comprometida uma vez que uma uniformização do pensamento com base na opressão da liberdade de pensar torna esta coexistência um não assunto, conduzindo à nossa negligência coletiva e ausência de rumo, que por sua vez perpetua o nosso ciclo autodestrutivo.


Ora, fica patente que um grande desafio que se atravessa à nossa frente, é a finitude. Neste caso, falo mais concretamente do fato de algumas coisas/situações não terem fim à vista e outras efetivamente deixarem de existir.


Como um bicharoco igual a todos vós, senti recentemente, de forma mais palpável e quase persecutória na minha mente, a ideia de morrer (não por causa do vírus, mas pela forma como somos bombardeados diariamente com a ideia de que a nossa existência pode cessar). Vejo o tempo passar sem grandes alterações ao estado da nação, falta de alterações essa, associada ao contexto deste vírus e de toda a politização em torno da coisas vai-me roubando um bocado de esperança todos os dias e cria uma carga de ansiedade sem precedentes que não recomendo a ninguém, dormir é bom e recomenda-se!... Mas também sei que não sou o único, e sinceramente, quero que a vossa compaixão e condescendência relativamente a este estado vá dar uma volta porque isso não resolve nada e é absolutamente e humanamente normal passar por isto. Nem entendo qual é a necessidade de mediatizar estes estados nas redes sociais com o objetivo de dizer que existem, como é óbvio existem e sempre existiram, nós é que não somos humildes para assumirmos o estado em que nos encontramos, pedirmos ajuda (somos obrigados a vender todos os dias saúde - a todos os níveis - que não temos) e porque vivemos sozinhos no meio de milhares de milhões porque na verdade andamos todos "fritos da marmita" mas ninguém quer admitir e o primeiro a dar "parte fraca" (que noutra forma de viver seria perfeitamente normal) está fora do "clã". Mediatizar para criar awareness cria agendas, não tem resolvido problemas. É mais uma questão de influência do que propriamente uma ação concreta com resultados concretos.


Na nossa génese, não fomos projetados para nos adaptarmos a tanta mudança em tão pouco tempo e com isso fomos deixando de pensar na ideia do "fim" e nunca a pudemos compreender e aceitar... Afinal, isso consome tempo e há contas para pagar... Mas de repente vem um vírus e "oh meu deus, afinal não somos imortais" ...


Que se desenganem quando pensam que os fatores que nos têm manietado e destruído são externos. A culpa da presente instabilidade é nossa. Sempre foi.


Acrescento até, que se verificarmos a História, a finitude está sempre presente (verificando-se assim, a normalidade da mesma) , desde o cessar da existência dos seus intervenientes, à ciclicidade que daí advém. Isto é, a mecânica da sociedade é relativamente estanque quanto aos seus extremos mas muito dinâmica a um nível mais micro.


Como é que eu sei!?

Os problemas continuam os mesmos, uns subiram e outros desceram na hierarquia das prioridades definidas pelas ditas "forças", "as ferramentas" mudaram", "os mecânicos" também... Mas a treta continua a mesma apenas com um tempero diferente... Por isso... A finitude continua a ser um desafio? Ou é uma mera consequência? Tirem as vossas conclusões, o destino à chegada vai ser o mesmo. Pelo menos, de um ponto de vista ateu.


Está aqui um caso bicudo...Se a finitude é adquirida como normal, pode haver foco na "passagem para quem vem" mas como o foco do ego está no indivíduo continuamos a bater com a cabeça nas paredes...Ou seja, perpetua-se um paradigma de "pescada de rabo na boca" o que considero extremamente redutor e dececionante face à nossa capacidade de processamento e interpretação de informação e para aqueles cuja existência física cessou com a esperança de terem contribuído para algo melhor para quem viria a seguir.


Enquanto o foco não fôr mais coletivo e centrado num progresso comum, nunca deixaremos de ser escravos pensando que somos livres. Atualmente, a realidade é mesmo esta: somos todos escravos uns dos outros. E não se prevêem melhorias. Pelo contrário.


Posto isto, recupero a frase do início "vivemos tempos muito esquisitos..."


Será!?


Face ao meu deambulanço mental acima descrito, estou em posição de dizer que nada disto é esquisito, só se têm mudado circunstâncias e intervenientes mantendo os problemas por resolver. A única coisa que saiu da norma foi sentirmos na pele o que é ter a nossa pouca liberdade limitada e ainda mais manietada.


Ah mas o vírus...!?

"Ah mas são verdes!!!"


Quantos vírus há no mundo que matam e para os quais não há cura/tratamento!? Tantos...Alguns de certeza que nem sabemos que existem...ATENÇÃO, NÃO ESTOU A PROMOVER QUE SEJAM NEGLIGENTES!


Mas o ego não permite pensar de outro modo, nem consegue valorizar a sorte que tem por ter hospitais, centros de saúde e médicos... Sim ocidentais pseudoprogressistas e semelhantes, ainda há sítios no mundo onde estas coisas não são garantias! Achar que nunca vai acontecer nada e que somos invencíveis é só tresloucado. E sim, é fundamental valorizar a sorte que se tem para se poder projetar essa sorte para quem não a tem. Desvalorizando, as carências nos outros cantos do mundo são mantidas com muito mais facilidade sob o pseudoargumento de quem agora precisa "somos nós". Assim, perpetua-se uma maior escravidão de uns e uma menor escravidão de outros... criando a ilusão de que uns são efetivamente escravos e outros livres, mas na verdade são ambos escravos.


Por hipótese, até considerei um argumento à primeira vista ridículo, mas este ciclo perpétuo de escravidão e de problemas sem solução, pode ter significado... Isto é, a não resolução e a não abertura de horizontes orientando-nos para o atual individualismo, pode fazer sentido... um sentido utilitário... como aquele discurso do "tou-me a cagar quero é fazer o meu trabalho e que não me chateiem". Trocado por miúdos, o que quero dizer é que talvez se leve a coisa mais facilmente com este método até ao dia de apagar as luzes porque pura e simplesmente não se pensa... Só se replica... Desde a manufatura à industrialização, tudo evoluiu até que nós próprios é que passámos a ser produtos...


Epá não sei o que é que vocês pensam, mas acho que ninguém navega mares ao sabor do vento, compreende o uso do fogo, domestica animais, desenvolve estruturas e comunidades com base num ideal de manter o seu conforto no ponto de partida... Nós fomos feitos para estar desconfortáveis, mas com o sentido de vencer desafios que nos promovessem a uma realidade coletiva melhor uma vez que a sobrevivência de todos dependia de todos. Isto é o nosso design base. Aliás os sistemas de governação no seu estado puro têm como alicerce essa lógica. O problema é que os tempos que correm são ilógicos.


Tão ilógicos, que depois "da roda inventada, e funcionando com toda a fiabilidade e mais alguma, a nossa preocupação não foi melhorar as estradas, foi aprimorar a roda quase perfeita" com o intuito de atingir a perfeição que nunca conseguirão atingir… Naturalmente estas linhas são meramente figurativas, mas explicativas o suficiente relativamente à obsessão patológica generalizada deste mundo escravo em atingir estados, objetivos e situações que nos ultrapassam dada a nossa efetiva limitação. De fato, o verdadeiro handicap é a não assunção e trabalho em torno das dificuldades, se assim não fosse, ninguém discutia quem tinha a melhor roda, trabalhariam nas estradas e nas rodas muito boas que serviriam todos com o mesmo grau de qualidade. De todos para todos.


Se não creem nas limitações que faço referência, basta olhar à volta, olhar para todos os animais muito mais capazes de sobreviver que nós, animais muito mais adaptados à sobrevivência fora do meio que foi construído por nós, o meio de onde viemos, aquele que já esquecemos, mas o meio onde de igual para igual, nos mostraria como afinal somos apenas uns "trogloditas sofisticados". O mais triste no meio disto, é verificar que é nesse mesmo meio, onde a sobrevivência é maioritariamente assegurada pelo trabalho de equipa, mesmo contra todas as nossas "invasões".


E isto, remete-me para outra coisa, a inabilidade para observar e interpretar o significado das palavras... Este mundo escravo que troca pseudonecessidades encapotadas por trabalho meramente replicativo, também é o mundo onde os termos são deturpados e se constroem ideais sem qualquer tipo de nexo, estes ideais são as verdadeiras forças motrizes das massas. Um excelente exemplo, é o vocábulo evolução, evolução, significa mudança de estado. Não implica em circunstância alguma que essa mudança de estado produza sistematicamente resultados positivos… Mas como não vemos para além do que se observa… A evolução será sempre boa!? Think again...


Hoje, como pensamos que a sobrevivência e o sucesso de todos não depende de todos, só saímos da nossa zona de conforto para vencermos desafios que nos promovam individualmente a uma melhor realidade. E se, ainda por cima, essa promoção, é conquistada "com outras pessoas a ver"... O ego faz das suas... Fazendo esquecer que devemos sempre alguma coisa alguém e que nunca chegamos a lado algum sozinhos. Sempre foi assim, desde o início dos tempos… Mas há quem invente em sentido contrário.


A quem pensa assim, lamento, são "camursos/as" (mistura rara entre um camelo e um urso, estes sim, tipo aqueles que detestam no trabalho).


Faz falta um projeto verdadeiramente humano, que tenha consciência do caminho a seguir e dos danos que se podem provocar e que se provocaram de forma a conseguirmos uma coexistência sustentável entre os outros habitantes, nós e entre nós e a nossa mente. Nós nascemos para ser livres, não para sermos escravos e vivermos numa prisão psíquica alicerçada na escravidão com vários níveis...


A libertação é o segredo para um futuro melhor, muito provavelmente não acontecerá no meu tempo útil, mas mesmo sabendo que a minha visão não é popular, pouco me importa… É uma visão que, pelo que podem ir lendo neste pequeno canto online, é coerente desde o princípio e pressupõe uma consciência coletiva.


Eu não sou ninguém, muito possivelmente não serei ninguém aos vossos olhos.


Mas eu sou alguém, e serei alguém, aos meus olhos, até que se fechem.


"Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver. "

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII"





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