top of page

Nós

  • Foto do escritor: "Zé"
    "Zé"
  • 8 de mai. de 2018
  • 10 min de leitura

Atualizado: 16 de mai. de 2018

!Conteúdo explícito, gráfico e coisas afins!


Nós...Podia ser apenas um pronome pessoal correspondente à primeira pessoa do plural, mas sabemos que o vocábulo tem um significado muito mais amplo.


Verbalizar "nós", nos mais variados contextos, implica pertença, cedência, concertação, reciprocidade e harmonia. A equação "nós" é composta por duas variáveis um "eu" e um "tu" (ou vários "tu"). O "eu" e "tu" passam a conjugar-se como "nós" quando é estabelecida um relação seja lá ela a que profundidade sentimental for, mas vamos apenas considerar as relações que, na sua génese, são mutuamente positivas: a Amizade e o Amor.


A forma como é estabelecida uma relação de amizade e amor é idêntica uma vez que os pilares são partilhados, o amor é que tem uns factores extra como o erotismo e a ideia de projecto comum, por exemplo.


E então? Isto faz tudo sentido, será uma mera constatação da realidade?


Não.


Enquanto bichos, é preciso perceber como nos organizamos para percebermos como é que as relações se estabelecem e desenvolvem ao longo do tempo.


No princípio de tudo, o fundamental era lutar pela sobrevivência com uma especial preocupação pela reprodução, mesmo antes de se perceber que afinal viveríamos em pequenas comunidades.


Nem o romantismo nem o erotismo existiam, o acto de procriar era meramente funcional (sem qualquer tipo de erotismo associado, apenas a biologia tinha intervenção nesta questão) e era um tanto ou quanto desesperante uma vez que a mortalidade dos frutos desse mesmo acto era elevadíssima... estávamos a lutar pela nossa multiplicação, pelo nosso lugar no ecossistema... estávamos a lutar contra a selecção natural. Mesmo com algum sucesso (relativo, tivesse o sucesso ido ao encontro de outra realidade e muito provavelmente nem estaríamos por aqui) contra a selecção natural, tivemos alguns danos colaterais até começarmos a afunilar e chegarmos onde chegámos hoje.


Mas voltando um bocadinho atrás... progredimos de pequenos agregados nómadas às primeiras formas tribais que fundaram as primeiras comunidades. Essas comunidades apoiaram-se na biologia humana para dividir tarefas, tarefas essas, que se distinguiam principalmente pela força e risco necessários para as executar sendo as mais exigentes e arriscadas para os indivíduos masculinos e o contrário para os indivíduos femininos (mais uma vez, a preocupação com a manutenção e reprodução). Como a biologia não é perfeita, fez questão de ampliar em alguns indivíduos masculinos (por via do seu perfil hormonal e consequentemente físico e psicológico) as suas características de dominância e fez o mesmo (por essas e outras vias) relativamente aos indivíduos femininos mas com o objectivo de favorecer a maternidade e tudo o que a envolve, desde o instinto maternal ao próprio processo de desenvolvimento e crescimento da criança.


Ora, está criada pela biologia uma relação de interdependência mas que entre os indivíduos do mesmo sexo vai começar a distinguir hierarquias de dominância tendo como vértice os (supostamente) mais aptos, entenda-se, mais fortes e melhores "reprodutoras", respectivamente.


Como ainda estamos na fase da luta e ainda não temos assim tanto sucesso quanto isso a nível do número de indivíduos que compõem a população, a selecção natural é "despoletada" e a biologia encarregar-se-à de fazer com que os mais fortes procriem com as melhores reprodutoras. Nada disto tem a ver com processos racionais propriamente ditos, somos apenas bichos a lutar para não desaparecer do mapa. Nem há comunicação verbal propriamente dita, entenda-se, articulada.


Há quem defenda que nesta fase já poderia existir algo idêntico à afinidade entre semelhantes, mas nada idêntico ao que temos hoje...


Nesta fase primitiva, podemos também admitir que a existirem "erros" no nosso código genético estariam pouco disseminados uma vez que as populações eram reduzidas e como a procriação era maioritariamente realizada dentro da comunidade, esses "erros" perpetuavam-se no seio da mesma ficando "contidos". O que até facilitava a identificação dos potenciais reprodutores desse erro passando estes a sofrer uma primeira forma de discriminação negativa uma vez que a biologia faz com que interpretemos isso como algo que tem que desaparecer e que não pode ser reproduzido. Seriam olhados como inferiores, fracos e inaptos. Deficientes? Esse termo, ainda nem existe. Ou melhor, muitas coisas ainda nem têm nome, só processo... é o que está escrito no nosso ADN.


Ok... e então? Até agora só "sermão aos peixes"...


Está beeeeeeeem... mas não deixa de ser importante...


Com o passar do tempo, e como bicho cultural em que nos tornámos, a religião, as obras literárias, as novas formas de organização social, as correntes de pensamento, a tecnologia, o tempo disponível, o materialismo... e tantos outros factores foram modelando as nossas relações...


Relativamente à Amizade, ficámos altamente especializados na nossa compatibilidade com terceiros, mas cometemos um grande erro, valorizámos o efeito de rebanho/status social como sendo uma verdadeira referência no que à essência dos nossos amigos diz respeito. Isto é o mesmo que achar que quem calça ténis de Crossfit, faz Crossfit, mas na realidade estavam em promoção na net e eram giros... Ou então que quem conduz um carro azul é porque necessariamente gosta da cor azul, mas na realidade, era um carro de serviço com poucos quilómetros, e por isso, um bom negócio... Se calhar nem gosta do carro, enfim... Abri uma Caixa de Pandora? A sério!? E perguntar mais? E conhecer mais? Generalizámos a coisa e depois dizemos que corre mal... culpa nossa... Agora, há uns/umas que enganam bem, mas isso deveria estar contemplado à partida no nosso "fundo de resgate para desilusões"... Mas pronto, lá nos vamos dando a esta montanha russa entre boas e más amizades, afinal, a Amizade é percepcionada como uma coisa com baixo risco e responsabilidade (atenção ao termo "percepcionada" não estou a dizer que a Amizade é uma relação com poucas consequências ou irresponsável), e por isso, vamos de cabeça porque queremos pertencer, não queremos ficar de fora e ser chamados de Velho do Restelo ou de Ovelha Negra por vivermos e executarmos os nossos valores e princípios. É frequente esquecermos que antes do espaço comum que partilhamos com os outros temos que preservar o nosso espaço em que somos nós próprios. Óbvio que isto não quer dizer que defendo o isolamento, nada disso! Mas não nos podemos esquecer de quem somos e a partir daí conseguirmos coexistir com outros que possivelmente têm interesses comuns, assim é estabelecida uma relação de amizade autêntica, não baseada na necessidade de pertença, mas sim, na empatia, afinidade e concertação.


Isso parece um excerto de um romance do José Rodrigues dos Santos temperado com humor gasto do Nuno Markl...


Ai sim? Então espera só pelo Amor...


Vou aplicar os conceitos de giver (quem dá) e taker (quem tira, mas não retribui na mesma medida) para tornar tudo mais simples e visual uma vez que estão presentes em todo o tipo de relações mas que no Amor assumem especial importância.


Buckle up...


Voltando ao "tempo dos macacos" (não literalmente), nessa altura, a relação entre o giver e o taker era equilibrada, isto é, o portador da matéria genética a reproduzir providenciava alimento e outras condições de vida necessárias à reprodutora favorecendo directamente o contexto reprodutivo com uma ou mais reprodutoras. Ou seja, são dadas condições para que seja dado à luz o produto do material genético a reproduzir.


Então mas isso não é uma relação giver-giver?


Afirmativo, por incrível que pareça, os "macacos" inócuos e burros percebem muito mais disto que nós porque não se preocupam com coisas supérfluas. Entenda-se... ideias pré-concebidas.


O Amor, antes de qualquer ideal religioso ou filosófico, pressupõe sempre uma base de give-give. Mesmo anexando todas essas doutrinas maradas que o tempo trouxe, a base mantém-se, mas atribui funções e clarifica o papel dos envolvidos. Ora, quando isto se perpetua no tempo, a cultura destes princípios fica de tal forma enraizada no tecido social que a identidade perde-se. Costumes, cultura...Formatação... Mas vá, enquanto o give-give aguentar...


Spoiler alert!!!


O give-give não aguentou...


De facto, há um momento em que pelo meio de abismos e montanhas de sentimentos surgem os/as takers, estes/as tipos/as não compreendem o conceito de interdependência, apoiam-se numa sociedade desequilibrada e sem identidade para tirarem e insuflarem o seu ego pobre com a boa vontade de quem quer dar e cultivar a reciprocidade de forma genuína.


Chamar-lhes-ia de Esponjas, mas isso remete-me para álcool... Não é boa ideia...


Seriedade outra vez...


Adiante, como é que nasce um taker?


Bem, vou dar o peito às balas e assumir que todos nascemos givers (isto é, julgo não estar no ADN de ninguém destruir outras pessoas emocionalmente) mas alguns, por em algum momento terem passado por determinado tipo de experiências foram-se modelando como takers (desistiram, foram fracos por reagirem à ingratidão da vida com facilitismo, pseudo escapatórias e outros mecanismos perversos de compensação) mas que se apresentam como givers.


A existência da figura do/a falso/a giver é o princípio da ruptura da reciprocidade uma vez que dissemina o medo da entrega semeando futuros/as takers.


Semeando outros/as takers? Como assim? Eu sei perfeitamente o que sou e o que tenho que fazer...


De certeza?


O problema reside na forma como nos organizamos actualmente e estabelecemos relações.


Mesmo com um planeta com demasiados bichos como nós, retomamos comportamentos da "altura dos macacos"... Mas no nosso contexto é pior... Pior, porque já existem ideias pré-concebidas em torno do erotismo, da vida em comum, da estética das coisas e da vida em sociedade.


Hoje, temos algoritmos que nos dizem se pela nossa simetria e proporcionalidade somos ou não um/a espécimen alfa e acreditamos piamente nisso quando supostamente temos um cérebro que nos permite saber contextualizar essa informação em vez de a interiorizar e viver... Depois ficamos ansiosos e deprimidos porque afinal as coisas na vida real não são bem a mesma coisa... é um bocado como a a questão do carro azul lá mais para cima...


Então não é bom sabermos se a nossa imagem é aceite?


Respondo: E se não for? Queres saber? ... Pois... Contextualizar mais as coisas faz falta... Se é perceptível que a imagem é aceite, porreiro, mas isso não traz qualquer tipo de título associado. O que traz reconhecimento é saber que a imagem é aceite na rua, na vida real, num dia mais ou menos bem vestido ou mais ou menos penteado, porque a imagem que projectamos é bem mais do que um simples frame...


Aliás até acrescento, achas razoável limitar a imagem das tuas cerca de 30 biliões de células num simples frame? Não achas ridículo? Todos somos tão mais que isso...


Hoje vivemos na dormência da felicidade, ser honesto sobre ter problemas é ser fraco, inapto, menos alfa... As emoções reais são proibidas, diminuídas, tornam-se bagagem, o mundo está contra nós... Ficamos com medo de perder o rebanho...


Nota Pessoal - Já eu curto imenso entrar e sair, é mais engraçado, aprendo mais, observo mais... Não sei, mas acho que era giro tentares, ser ovelha negra não é necessariamente mau... Uns vivem uma vida lá dentro... Eu gosto mais de ir levantando voo e aterrando...


Retomando...


É triste como a maioria provoca a insanidade e instabilidade alheia como se de rotina se tratasse, como se fosse obrigatório corresponder todos os dias a toda a hora... A pressão é gigante, perdemo-nos nisso, perdemo-nos a nós próprios, desistimos dos nossos sonhos, do nosso caminho... Cedemos...


Ok ok, já percebi... Então mas é reversível? E esses givers, onde andam?


Mesmo num tecido tão degradado ainda acredito que a reversão é possível, aliás eu levanto-me todos os dias a acreditar nisso... Agora... Temos um problema...


Pressupõem-se que a partir desta nova organização hierárquica de dominância que os "Alfas" - aka Takers - tomaram conta disto tudo porque supostamente representam o último reduto de força e sucesso, sendo por isso mesmo, o código genético a reproduzir... A questão é que não representam nada disso directamente...Com base na opressão e no medo, criaram uma imagem-produto cuja identificação é relativamente fácil e que quando exposta a um tecido frágil, degradado e oprimido, são-lhes reconhecidas características que não têm (com base em estereótipos!)... A maioria olha para eles como deuses mas são apenas e só egomaníacos miseráveis... Mas como a contextualização não é o forte da maioria, cedem ao deslumbramento em detrimento de tudo o resto e depois queixa-se que sofre...


- Mais um/a taker a sair para a mesa 7! -


Os givers não estão extintos, simplesmente reservam mais o que lhes resta e vão dando cada vez menos porque já lhes foi tirado tanto, mas tanto... Os/as givers foram discriminados negativamente desde muito cedo como sendo a parte fraca, ingénua e inapta...


Nota Pessoal - Pois bem... hold my beer enquanto desconstruo esses/as takers ...


Os/as givers são fracos/as? Tens a certeza? É mais fácil dar ou receber? Neste caso o receber é mais tirar... Mas enfim... Como é óbvio é mais difícil dar porque têm que abdicar de parte deles para proporcionar algo a terceiros... A lógica do "dar" é que se todos déssemos de verdade nunca faltaria nada a ninguém, independentemente de isto ser ou não utópico... Mas algo ou alguém achou giro corromper isto através da sexualização exacerbada e desresponsabilização das coisas... Patético, experimenta ser giver e verás quanto pesa...


(Quanto à parte da sexualização, os/as givers não são estéreis! Muito embora a maioria assim acredite com base noutros preconceitos... Tipo... são bichos à mesma como tu e qualquer taker... só que os/as takers são estúpidos/as...Portanto... instinto, reprodução... Does it ring a bell?... Julgo ter sido claro...)


Os/as givers são ingénuos? Como é que podem ser ingénuos se continuam a ser fiéis aos seus princípios? Como podem ser ingénuos se o tecido social é que está corrompido a tal ponto que por princípio discrimina negativamente quem é fiel a si próprio? Ainda são ingénuos? Ou já percebeste que há bestas a mais? Ingenuidade não! Lealdade e honestidade acima de tudo... Mas é tudo tão frágil que já ninguém acredita... Mas mesmo assim não desistem...


Os/as givers são inaptos? Que eu saiba foram os/as givers que nos trouxeram até hoje, até aqui... Foi sempre alguém que deu algo por nós para estarmos cá hoje.


É triste ver associado a vontade de querer ajudar e fazer o bem a algum tipo de desespero por preenchimento quando a ajuda e o bem a serem praticados é que têm como objectivo preencher o vazio alheio... Perspectiva e contextualização...


A maioria continua a sucumbir... mas, como giver assumido... venha quem vier...


Ser giver é ser Humano na sua génese, o problema é que como não vem em catálogo nem é dotado de uma pseudo efemeridade sensual à primeira vista a maioria continua a ver as coisas ao contrário... (não estou a falar de factor mistério nem de atributos físicos, estou a falar de ser a personificação do vácuo - o que me parece ser uma coisa realmente sustentável ao longo do tempo...)


Ser giver é tentar tirar takers semeados invasiva e abusivamente, é semear givers para um futuro mais feliz e pacífico sem coletes de forças nem cordas, é regar e vê-los/as crescer, é cuidar quando têm ou não dificuldades, é mostrar que podem florescer sem medo...


E, mesmo assim, caso optes por errar, um giver vai lá estar para ti...


Até lá, venha quem ou o que vier...






ree



 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Commentaires


© 2023 por NÔMADE NA ESTRADA. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page