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Amor

  • Foto do escritor: "Zé"
    "Zé"
  • 13 de mar. de 2018
  • 4 min de leitura

Poucas vezes me atrevi... poucas vezes deixei deslizar a caneta no papel sobre o que é "isto" do amor…


Existem tantas perspectivas “disto”… tantas formas de manifestar amor… Mas como pode apenas uma palavra definir tão objectivamente o que é tão diverso?


O amor, de um ponto de vista pragmático, resulta da necessidade de atribuir um propósito à compatibilidade biológica. Antes, o amor não existia (amor, propriamente dito!), o que nos foi escrito no ADN foi a necessidade de prociar para garantir a sobrevivência da espécie (que é diferente do acto sexual, uma vez que não existia erotismo propriamente dito, e para todos os efeitos, ainda somos um animal).


Valores como a fidelidade não existiam, talvez o que mais se aproximasse do amor, seria a empatia que nos é intrínseca relativamente aos nossos semelhantes… De facto, à altura, era um risco demasiado grande ter apenas um/a parceiro/a.

Sendo assim, verifica-se que o amor entre duas pessoas acaba por ser uma construção nossa, construção essa, que foi feita ao longo do tempo e que se foi alterando conforme contexto sócio-cultural de cada época.


A base do conceito "amor", surge por volta do século 18 (portanto “isto” tem qualquer coisa como uns míseros 300 e poucos anos, qualquer coisa como 4 gerações e picos, o que é bastante recente, mas o problema reside na velocidade com que se altera)… Retomando o século 18… Surge o conceito de Amor como o conhecemos hoje associado à corrente Romântica da época. Uma corrente que vem valorizar as emoções fortes, o eu, o não equilíbrio, a saudade, a intuição… os sonhos e fantasias…


De repente, a junção já não é uma mera necessidade biológica, passando a existir todo um floreado muito mais interessante e etéreo…


Este é o amor que conhecemos, uma dança intensa, um equilíbrio sensível que tem como expoente máximo o acto sexual que simbolicamente representa a exposição total ao outro sem qualquer espaço para esconder falhas e inseguranças.


De facto, a ideia base (embora fortemente apoiada em outros ideiais religiosos que se procuravam promover através do casamento) é interessante do ponto de vista da partilha, mas implica, que a partilha pressuponha uma reciprocidade absoluta...


...o que é impossível, visto que a junção se dá por interesses individuais muito específicos mas que são do agrado de ambos. Existe cedência e aceitação, nunca existe harmonia à primeira vista, a harmonia constrói-se com o tempo e mais tarde poderá surgir o projecto comum… E aqui, preciso de ressalvar que a resposta hormonal à primeira vista nunca pode ser confundida com harmonia, mesmo que comecem ambas com "H"...


Com o tempo, dando a ideia de que esta forma “lamecha” criava complicação em torno do acesso ao expoente máximo (apoiando-se na efemeridade da biologia), o sexo passou a ser o critério, a única emoção forte para a qual se deve realizar qualquer tipo de esforço (como se o toque suado fosse a única forma de erotismo… enfim…). E num mundo em que a maioria não tem tempo para ter tempo, há que “descomplicar”.


Desvalorizou-se a emoção em detrimento da mera carnalidade e objectificação dos corpos.


Então mas a emoção atrapalha?


A emoção não atrapalha, mas atrasa…


Então e o Romantismo?


O Romantismo não desapareceu, diversificou-se em géneros que o valorizam ou não, quase inviabilizando por completo a sua execução e apreciação…


Então e agora? O amor perdeu a magia?


O amor não perdeu a magia, as pessoas é que deixaram de gostar de magia instrumentalizando o papel do outro em função do que querem. No fundo, todos podemos ser mágicos, basta querermos fazer magia que a magia pode acontecer…


Enfim...


Parte sempre da permissa errada quem pensa que o que provoca a união é o interesse comum, o interesse comum só surge mais tarde… o que aproxima e pode despoletar a união é estritamente individual porque tem por base o nosso feedback íntimo relativamente ao outro.


O próprio amor, também sofre connosco, e sofre porque não é sinónimo de posse nem egoísmo… Mas estas, são consequências que o amor verdadeiro colhe da instrumentalização dos sentimentos por parte de quem não tem a ideia de projecto (que não é ilegítima, apenas subserviente, porque pressiona o outro a ceder porque lhe é vendido "gato por lebre").


Quem tem dúvidas sobre o que é amor de verdade, deve saber que fere, e fere mais que profundamente. Tão profundamente que é capaz de fazer refém aquilo que faz de nós seres inteligíveis… os nossos sentimentos, o nosso carácter…

Tão reféns, que quando tentam "escapar" abrem uma nova ferida, sendo que, toda a aproximação se traduzirá numa ferida com uma profundidade sem fim…


O pior desta "prisão", é poder ver-se claramente para fora quase nos colocando numa posição em que ou esperamos que a prisão caia pedra por pedra ou alguém nos virá tentar libertar correndo o risco de se magoar… com gravidade…


O amor é,


Efectivamente... cru, selvagem, livre e natural.


Materializá-lo, instrumentalizá-lo, quantificá-lo ou condicioná-lo, é impossível.


O culminar daquilo que o amor representa, não se verifica no palpável, mas sim no que é passível de ser sentido no nosso interior quando sintonizado, caso seja possível, com o outro.


É nesta visceralidade do sentimento que nos devemos deixar viver para que possamos desfrutar harmoniosamente em comum de um sentimento tão caótico.


Como elemento errático das nossas relações nunca traçará um percurso linear, e por isso, a necessidade intrínseca de amor se possa, por vezes, confundir com egoísmo.


Na vida, não há processo mais belo e mágico que este… Afinal, o amor não prende, aliás, contrariamente ao que maioria crê, liberta!


Amor é partilha e concertação. Dividem-se os problemas e multiplicam-se os bons momentos.


O amor não tem respostas certas nem erradas,


Pode-se sorrir pela ruptura e respectiva promessa de recomeço, pode-se sorrir pela nova descoberta e respectiva perspectiva de crescimento, pode-se sorrir pela contínua cultivação do outro...


O amor é complexo, mas tem por base, premissas simples.


O amor, não é mais nem menos que ele próprio...


Só faltam pessoas, pessoas que amem e se deixem amar, de verdade…



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