Fuga
- "Zé"
- 7 de mar. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de mar. de 2018
Fugir porque se quer, fugir porque se precisa.
Julga-se, na maioria das vezes, que a fuga é cobarde, poucas vezes considerando, que mais que necessária, pode ser um fim com partida. A fuga, por vezes, é inclusivamente mais audaz que o confronto directo uma vez que representa uma ruptura completa, crua e profunda com o paradigma actual da situação...
Normalmente, a fuga dá-se perante o insuportável e irredutível. Mas, por algum motivo, a fuga é censurada, censurada porque implica evadir e evitar. Como se, do lado de cá evitar e evadir fossem os pecados mortais da nossa mísera existência, como se, do lado de cá nunca o tivéssemos feito... Quando, se há coisa que sabemos na vida, é que pouco ou nada existe "sempre" e "nunca"... De facto, contrariamente à redutora definição conceptual de fuga, a fuga pode ser muito mais, pode ser reencontro, reencontro com o que se perdeu, com o que se quer, com o equilíbrio, com a essência... Porquê censurar? Onde está a falta de legitimidade e a liberdade individual?
Hipocrisia pura...
Julgar a necessidade alheia para marcar uma suposta posição na vida de alguém que nem se coloca do outro lado, como se assumisse saber velejar sem vela... Pois que fique sabendo, que sem vela leva-o a corrente, e sujeitando-se à corrente pergunto-me afinal que princípios é que podem justificar o apontar do dedo...???
Mas apontam, e apontam do alto da sua moralidade alicerçada em falsos princípios, esquecendo-se dos próprios comportamentos de fuga que executam diariamente. Digo isto, porque um pouco de nós está em constante fuga. Em fuga por todos termos os nossos problemas, ansiedades e inseguranças dos quais nos evadimos e, no fim, evitamos.
É muito por isto que a fuga, é mais que o próprio conceito, e é por isto que é tão importante saber colocar-se do outro lado... Coisa que, infelizmente, não abunda nos dias que correm...
Esse egoísmo e prepotência de uma pseudo verdade absoluta... A verdadeira verdade, está do outro lado, e muitas vezes, para ser compreendida na sua plenitude, implica uma fuga de nós próprios para que nos possamos envolver no outro!
Por isso, insisto mais uma vez, fuga é muito mais que evitar e evadir, também é reencontro com o outro, connosco, com o outro lado, com a realidade... Parece prisão psíquica, mas quem se prende é quem não se permite...
Não apontes o dedo, correrás o risco de ter de fugir de ti próprio... Ou então aponta, mas primeiro tem a coragem de te conhecer e de abraçar a tua existência na sua plenitude ...
Pois, lá está, falta coragem... Coragem para saber, ser e estar
Saber o que és, Ser o que és, Estar com o que és
De verdade...
De repente, fugir já pareceu muito pior, não é?

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