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Confiança

  • Foto do escritor: "Zé"
    "Zé"
  • 29 de mai. de 2018
  • 8 min de leitura

"Era só o que mais faltava... dizerem que a "química cerebral" é um defeito de concepção com milhões de anos! Epá, não me lixem..." - Disse eu em 2018 um bocadinho mais lá para baixo...


Não desistam agora, isto foi só uma citação aleatória para servir de isco...


De volta às coisas sérias...


Por definição, dir-se-ia que a confiança é o sentimento de segurança/firme convicção que alguém tem relativamente a outra pessoa ou a alguma coisa. Trata-se também da presunção de si próprio e de uma característica que permite levar a cabo coisas ou situações por norma difíceis. Acrescentando apenas, que a confiança também tem a si associada o conceito de familiaridade.


"Boa miúdo sabes ir ao dicionário..."


Calma! Já vai!


Ora... Verifica-se que a confiança é um conceito multidimensional, mas que é transversal ao que nós somos para connosco e para com os outros.


(O mesmo se aplica às nossas coisas e às coisas dos outros.)


Neste processo, o mutualismo é fundamental, mas já lá vamos...


Podemos dar, receber e ter confiança. Estas, são as dimensões do conceito. "As partes" podem ser independentes entre os envolvidos uma vez que podemos dar e receber confiança não a tendo (em nós próprios) e vice-versa.


"Oh campeão, mas como é que dás o que não tens?"


Elementar, meu caro Watson!


...Estou a gozar, é bem mais complexo que isso...


A confiança, implica crença, implica a atribuição de valor a premissas que não controlamos completamente.


Confiar é por si só, um exercício delicado e extremamente complexo, tanto para connosco como para com os outros. Confiar, é dos equilíbrios mais finos que a vida tem e por isso é algo que nos é tão terno como devastador, confiar de menos é não fazer acontecer, confiar de mais pode ser ruína... Confiar é risco, mas também é risco que dá vida à vida.


"Não estou a perceber nada..."


Ok, vou trocar por miúdos... Tropecei nesta imagem algures... num recanto da net (Espero que dizer "net" não seja muito 1998... Mas tudo bem... podia optar por dizer "enquanto fazia scroll", de facto é muito mais trendy, mas eu não quero saber!)... estava em inglês... foi, claramente, um trigger para pensar um bocadinho:

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Ora vejamos... esta simples equação, traduz de forma altamente simplificada (mas não redutora) quais são as premissas que se constituem como basilares daquilo que pode ajudar a definir melhor o que é a Confiança. Neste caso, verificamos que a Consistência e o Tempo são as premissas em questão.


À primeira vista, a relação entre ambas, para além de lógica, parece simples tendo em conta que em princípio existe uma linearidade quase absoluta e que daí resulta uma resposta simples e pouco questionável sobre o que afinal é esta coisa da Confiança.


!...Surprise, Surprise...!


Não é bem assim...


Como tudo o que nos rodeia (material ou imaterial), ainda estará para existir algo que seja estritamente linear e harmonioso... Aquilo que mais se poderá aproximar disso talvez seja a Natureza, e não, nem mesmo a ciência... Senão, pela via da Matemática, estaria bem definido qual seria o resultado da equação... ou seja, seria igual à Consistência repartida ao longo do Tempo... Mas não... Não chega!


De facto, esta condição de dúvida e indefinição conceptual prende-se com o simples facto da Vida não ser uma verdade absoluta nem uma causa/efeito, mas sim, porque a Vida em si, não é nada mais nada menos que um equilíbrio desequilibrado que se vai sustentando... A vida simplesmente acontece, o rumo que lhe damos, é que corresponde à nossa forma de viver!


"Ok, já percebo mais qualquer coisa, mas como é que nos conseguimos aproximar da definição de confiança?"


Pois bem, podemos começar por nos perguntarmos sobre que Consistência e que Tempo definirão a existência ou não de confiança e que grau de confiança pode existir.


Consistência... que Consistência é que pode ser validada?


Será a repetição sistemática de comportamentos coerentes entre si, uma forma de validar a consistência dos mesmos e a partir daí confiar que podem ser extrapoladas conclusões sobre como é que o indivíduo em causa irá reagir/responder/actuar no futuro?


Que consistência é que se procura? Nas grandes coisas? Nas intensas? Nas pequenas coisas? O que é que pesa mais na consistência? São todas? De igual maneira?


Tempo... que Tempo pode ser validado?


Quais são os períodos de tempo para se confiar? "Há uma tabela em Excel?"


Os períodos variam de acordo com o tipo de acontecimentos em questão ou com as pessoas envolvidas? Ou com os dois em simultâneo?


O tempo pode ser definido?


A ser definido, é por ti? Porquê? É pelas referências que retiras da tua história de vida? Da sociedade? Como é que aplicas isso? Faz sentido?


Pode parecer um bocadinho arrogante, mas na verdade é a realidade pura e dura...


(BAD NEWS...)


A resposta é sempre Não...


"Então mas assim a confiança não existe..."


(GOOD NEWS!)


Calma, a confiança existe, só não pode estar limitada à ideia central da equação porque nós somos bichos altamente imperfeitos e na nossa génese somos claramente imprevisíveis, por isso é que existem coisas como a Educação e o Direito (por exemplo... - para andarmos todos mais sossegadinhos e não fazermos coisas parvas uns aos outros, mas ainda assim fazemos!) Daí ser importante dissecar a confiança e perceber como é que afinal ela pode existir.


Então vamos lá ver o que pode ser um ecossistema favorável à existência de confiança...


Um ecossistema favorável à confiança, é um ecossistema onde todos os envolvidos estão cientes e convictos da sua imperfeição e da sua plasticidade perante a própria vida, no sentido em que poderão tomar decisões que podem implicar mudar radicalmente de rumo colocando em causa quem são e o que representam neste momento para tudo e todos à sua volta.


"Hmmmm...Então e para eles/as próprios/as? A auto-confiança?"


A auto-confiança... ponto prévio... não acredito na total inexistência de auto-confiança. Há sempre aquele 0.1% que nos agarra, quando falha tudo, é esse 0.1% que nos segura e pode catapultar para uma vida mais plena connosco próprios, e posteriormente, com os outros!


A vida é um bem extremamente precioso, uma dádiva! Aliás, até foram criados pela biologia mecanismos para combater o fim da própria vida, (patologias à parte) só morremos porque o corpo vai perdendo essa habilidade.


Aqui, o rancor e o medo assumem papeis fundamentais na conquista da auto-confiança, a nossa passagem pela vida é relativamente efémera, se é para carregar bagagem que seja para viajar! E se for com medo, é para avançar mesmo com medo... Ou existir todos os dias não é desafio mais que suficiente?... Viver? Viver é outro desafio, ainda mais titânico... Mas isso é outra história...


"Ah... Pois...Mas... E o risco!? Deves pensar que isto é tudo pessoal de camisola de manga cava e fita do Rambo na cabeça..."


Tenho a resposta na ponta da língua...


Para existir risco basta termos nascido, e que antes de nós, todo um conjunto de gerações tenha arriscado para estarmos aqui hoje... Temos que cumprir o nosso papel pelos que fizeram por nós, por nós próprios e pelos que virão depois de nós.


Agora...É verdade que a dinâmica entre grupos numa sociedade ocidental e especialmente americanizada como a nossa, que vive sustentada num "capitalismo estético-acéfalo-ego-pseudoestatutário" (não politizem este termo, não tem nada a ver com política, pensem só em inchaço, é parecido! Só demora mais tempo a rebentar...) não é a mais positiva...


O preenchimento de nada corrói milhões de pessoas, daí que a incidência de problemas como a depressão e a utilização de psicotrópicos seja cada vez maior, o que por consequência, implica uma degradação das relações de confiança e a valorização de coisas supérfluas e sem qualquer tipo de conteúdo... Mas como o efeito é antiálgico (anti dor)... é aquela fuga linda e maravilhosa de nuvem ou tapete mágico... Lá nos vamos deixando levar na dormência e na insipiência das vidas alheias que acabam por contagiar uma grande maioria...


...E assim se vai alimentando a bola de neve...


(Isto não quer dizer que não apoie escapar ocasionalmente "à vida", simplesmente não posso compactuar com negação que conduz à insanidade...)


Não há mal nenhum em viver as coisas como elas são! Hoje, para se ser corajoso, basta sentir... Não é preciso andar à porrada nem mandar uns berros, é só Sentir... Ser frontal e transparente relativamente a isso.

Era só o que mais faltava... dizerem que a "química cerebral" é um defeito de concepção com milhões de anos! Epá, não me lixem...Fomos feitos para sentir, ponto final!


Algum problema ou dificuldade?


Temos mecanismos que pressupõem a racionalidade individual e que nos permitem decidir, mesmo enquanto sentimos! Caixas!? Robôs!? Para quê? Já os fabricamos aos milhões... Para quê nos tornarmos "familiares"!?


"E se erramos?"


É bom sinal, estás vivo/a! É chato? É... Mas acho que é bem melhor saber que estás vivo/a e que amanhã vai ser melhor!


"Faz sentido, mas podias poupar no português e afins porque isso está meio Miguel Sousa Tavares depois de umas 4 garrafas de tinto e um cachimbo... Ah e ainda não disseste como é que se confia!"


Correrei o risco de dizer, mesmo não tendo uma máquina do tempo, que como a maioria das relações, a confiança "começou" com a cedência de algo ou alguém que fez um voto de confiança noutro indivíduo tendo consciência e convicção da imperfeição e plasticidade de ambos... No fundo, correu o risco de delegar no outro o controlo das premissas do que está em questão naquele momento, nunca criando a expectativa de que de forma sistemática e indefinida no tempo, o outro cumprirá escrupulosamente o que se propõe a realizar sendo que o grau de confiança poderá aumentar de acordo com o êxito mútuo quando ambos abdicam do controlo das premissas, delegando-o um ao outro.


Digo isto, porque não pode existir confiança de forma unilateral. A confiança é um conceito efectivamente mútuo, que valoriza um êxito mútuo independentemente de existirem graus de auto-confiança diferentes entre os envolvidos.


"Estou a ver...Consegues pegar nisso e fazer um tutorial no Youtube? Ou um " Top10 de Factos Sobre a Confiança"? É só porque ainda continua a ser difícil..."


Não, a confiança e as relações são tão diversas e imprevisíveis que é impossível colocar as coisas dessa forma. E sim, será sempre difícil porque hoje, especialmente nos dias de hoje, a palavra cedência não está no vocabulário da maioria... É quase sinónimo de fragilidade, mas na realidade é uma grande prova de coragem, afinal, confiar e viver são um risco, e quem se permite, confia e vive...


"E a parte mútua na auto-confiança? Estás a fugir!?"


Não, fugir para quê!?


Infelizmente, tenho que voltar a falar na cedência no sentido em que quem tem pouca auto-confiança devia ser estimulado/a por indivíduos que têm mais auto-confiança de maneira a conseguirem ir encontrando e sentido inputs favoráveis para se desenvolverem nesse aspecto e até poderem ser estes últimos a cultivar auto-confiança nos próximos. Basta um elogio simples, uma palavra de reconhecimento na altura certa, não estou a falar em desenvolver uma claque para uma pessoa, aliás, se for esse o caso, vai correr mal, de certeza! Hoje, o que importa é ser inchado/a (ou insuflado/a como gosto de dizer, mas inchado/a é mais mauzinho) e continuar a inchar... criando desequilíbrios desnecessários provocando a subjugação e o esvaziamento de quem precisa... Idiotas... Como é que este modelo de inveja e mesquinhez singrou!? Também não sei... Ah pois... Coisas supérfluas... Pois é...


Então... mas isso implica que a Auto-Confiança, ao estar super mal distribuída, já não esteja ao alcance de todos?


Não, muitas vezes, o problema reside nos vazios que até já têm medo de se irem preenchendo, ou seja, existe uma forma de auto-discriminação (por causa dos factores erro e risco) em que já foram tão "carregados para baixo" que para saírem de lá não "compram" qualquer conjunto bem articulado de palavras ou pequenos gestos... Aqui, a persistência de quem quer apoiar de forma genuína é fundamental, mesmo que daí não surjam grandes resultados...


"Opá mas eu tenho a minha vida..."


Pois tens, mas se fosse contigo, era o que mais desejarias ter... apoio! Portanto não bufa e ajuda, amanhã és tu!


"Mas eu tenho mais que fazer!"


Boa! E eu? Quanto % da tua vida estás a investir nisto? Vou pôr as coisas assim, com uma esperança média de vida de 80 anos (701 265,022 horas) se investires 1% tua vida no outro são 7012,65022 horas (aproximadamente 292 dias) parece muito!? Ao longo de 80 anos!? Pois... A bigger picture é sempre uma caixa de Pandora que se abre...


De facto, para confiar é preciso dar confiança... O resto virá por acréscimo...


Agora, temos é que estar disponíveis para nos enganarmos de vez em quando, faz parte... A condição humana pressupõe o erro e o risco como variáveis fulcrais da nossa existência, por mais efémera que possa ser...


E é isto,


A confiança que te dou, para saberes que podes confiar mais em ti, na tua vida, no outro, na vida comum, numa vida mais plena, feliz e equilibrada...


0.1% que te agarram são o princípio da caminhada para os restantes 99.9%,


1% de ti consegue preencher 99% do outro,


Obrigado eu,


Confia.


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