Indiferença
- "Zé"
- 24 de ago. de 2018
- 6 min de leitura
"...fica aí construída uma pseudo ideia de hierarquia sendo que o DEUS passa a ser o Materialismo-Estatutário cujo altar é baseado numa mitologia Monetária que dita que todos os que estão abaixo, são incapazes e que em termos de literatura sagrada tem como base os 10 Mandamentos Sagrados da Inveja."
Em tempos de repostas imediatas, de pressas infundadas, de uma pseudo efemeridade exagerada da vida, de formulários de preenchimento automático e "vias rápidas"... Tempos em que não se pede licença e nem mesmo tendo olhado para um lado e para outro da estrada, temos a garantia que podemos passar numa passadeira completamente seguros...
A desvalorização do espaço e existência do outro é gritante e, ao mesmo tempo, muito preocupante...
Nunca se descartou tão facilmente...Nem nunca se construíram egos com base na vulnerabilidade dos outros como agora se faz.
É engraçado como hoje em dia o que não faltam "são rebanhos sem pastores".
"Sem pastores!? Como assim?"
Podia dizer que esta obsessão com a velocidade é desculpa, podia dizer que, por consequência, o tempo também é desculpa... E por fim poderia dizer também que uma comunicação menos cuidada aqui e ali também é desculpa... Mas não são!
"Ya meu, agora em português e explica a cena do pastor se faz favor!"
Antes de passar para a parte do "pastor" , reafirmo que nenhuma das premissas anteriores é desculpa para hoje "funcionarmos" (sim, funcionarmos, a palavra relacionar pouco ou nenhum peso tem, tendo em conta a falta de execução da mesma e tendo em conta o seu verdadeiro significado, isto é, hoje funcionamos, já não nos relacionamos, não é genuíno nem espontâneo o suficiente... salvo raras excepções) uns com os outros. Antes de todas as pseudo pressas e obsessão com pseudo resultados somos Humanos, o nosso propósito é esse mesmo, sermos Humanos e não um protótipo de uma cadeia de produção que interage com produtos idênticos e que um dia passa o prazo de validade e cessa a produção, logo cessa a vida, sendo que, o caminho que vai fazendo é um tanto ou quanto trágico no sentido em que após atingir o seu pico de produtividade, tem um caminho em que se vai tornando cada vez mais inútil para o sistema e logo que assim justificar, é substituído... Isto faz sentido!? Óbvio que não, não somos protótipos de porra nenhuma, somos humanos, isso sim, HUMANOS!
Passando ao "pastor", porque é que eu digo que cada vez mais "somos rebanhos sem pastor"... Durante este percurso atribulado que nos trouxe até aos dias de hoje, apareceram imensas formas de corresponder à nossa necessidade intrínseca de ter respostas, nomeadamente, as várias formas religiosas que hoje persistem no Mundo.
"Então mas aí não há "pastores"!?
Calma!
O problema, é que hoje, a crença/resposta que precisamos não reside no espiritualismo religioso e muito menos no Outro, mas sim, no estatuto e materialismo de terceiros que por sinal nos provocam a inveja à qual cedemos (por nos faltar a integridade e individualidade que o Humanismo nos confere, mas que há muito já o perdemos) tendo em conta que nos cria a ideia de que esses ditos cujos têm respostas que nós não temos e fica aí construída uma pseudo ideia de hierarquia sendo que o DEUS passa a ser o Materialismo-Estatutário cujo altar é baseado numa mitologia Monetária que dita que todos os que estão abaixo, são incapazes e que em termos de literatura sagrada tem como base os 10 Mandamentos Sagrados da Inveja.
Aqui, é imediatamente aqui, que se perde o "Pastor".
O Pastor não é discriminatório, o Pastor alimenta e cuida.
O Pastor não cultiva inveja e não desmembra a sociedade com base em pressupostos discriminatórios.
Pressupostos esses que, quem está na calha para subir na "hierarquia", tem que engolir... porque "faz parte"...
Todos os dias, pessoas abdicam do que são, incluindo a sua dignidade, para corresponderem a um Pseudo Pastor com pseudo boas intenções para continuar a cultivar inveja e manter o ciclo vivo.
"Então mas ninguém tem dois palmos de testa!?"
Ter tem, mas não os usa, uma vez que teve que abdicar deles para "entrar no sistema" porque precisa de comer e ter um tecto.
Com o passar do tempo e habituados a reproduzir mecânicamente aquilo que nos é exigido na cadeia de produção, vamos deixando de saber SER, ESTAR é outra coisa, por acaso, sabemos estar cada vez melhor (até porque mentimos cada vez melhor e a falta de autenticidade está na berra... Ah e quantos mais pseudo invejosos aka seguidores -melhor-, só assim seremos Pseudo Pastores mais importantes, por isso, estar bem com "Deus e com o Diabo" é fundamental).
Aqui, começa o ritual da reprodução como tentativa desesperada de subir na hierarquia. Quem copia e melhor reproduz sobe na hierarquia e continua a fazer nascer novos rebanhos "sem Pastor". Rebanhos que reproduzem o mesmo ideal de base mas que se discriminam mutuamente porque supostamente são todos melhores que os outros, mas são a mesma treta...
"Então e quem está fora disso!?"
Quem está fora, é isso mesmo, está fora... mas são poucos, muito poucos... Tão poucos que no geral são considerados estranhos e duvidosos. Vulgo "Bichos dos Mato".
"Hmmm e o que é que isso tem a ver com a indiferença?"
Tendo em conta que o ideal que serve de base para esta "Ordem Social" é fundamentalmente separatista e que todos temos que comer e ter um tecto, deixamos de nos apoiar uns aos outros, porque estamos todos em competição para subirmos na "hierarquia" enviesada de um punhado de palermas que cultivam a desumanização e que no fim culmina no nosso expirar de prazo de validade e nos mata inúteis e substituídos. E este é apenas um dos exemplos mais frios que pode representar a indiferença que nos rodeia e que muitos de nós acabam por não ter como contornar.
Somos esquecidos, muito esquecidos, sobre como as nossas acções influenciam os outros e nos transcendem em termos do efeito que podem produzir!
Até há quem lhe chame Karma...
O caminho que temos percorrido, faz-nos esquecer que nos condicionamos mutuamente, e com isso, colhemos o presente e semeamos o futuro.
"Hmmm Hmmm, e então!?"
Ora... ao nos condicionarmos, é desencadeado um conjunto de processos e acontecimentos que no futuro se podem verificar como altamente prejudiciais, tanto para uma parte como a outra, por pura e simplesmente, com toda a indiferença e desfaçatez do mundo dizermos: "caga nisso, vê lá se ele/a está preocupado/a!?". De facto, o significado de "preocupação" neste contexto apenas faz referência ao esforço que é necessário para transmitir/assimilar claramente uma mensagem entre interlocutores, e estando a cadeia de comunicação mais que corrompida...é um óptimo ponto de partida para que se crie um fosso ainda maior de indiferença, quando na realidade, deveríamos "deixar a pele" pela nossa integridade e genuinidade colectivas e não ceder à tentação dos rebanhos/ reprodutores crónicos de ideais.
"Ah pois mas eu tenho mais que fazer!"
Outra vez a mesma conversa...
Claramente que tens, mais ninguém tem...
Cada vez mais me apercebo que as pessoas gostam de se ocupar, de se sentirem indisponíveis apenas para darem um ar da sua pseudo exclusividade e perfeita reprodução ideológica do seu "Pastor", compactuando apenas com pseudo formas de convívio/aproximação muito pouco genuínas e algumas até meio orquestradas/esquematizadas que apenas têm o intuito de fazer parecer que de facto têm aquele "estatuto"/hierarquia...
Se tenho problemas com isso!? Claro que não, só não podem impor essa pseudo ordem baseada numa maioria desequilibrada e discriminarem negativamente quem tem outra opção (aka não pertencer ao mesmo rebanho). Isto porque, a minoria já está a fazer um esforço danado para aturar tanto capricho desumano... Mas continua fiel aos seus princípios e ainda bem que assim é!
De facto, levantam-se inúmeras questões...
Onde está a génese/genuinidade do contacto e comunicação entre humanos? O interesse pela verdadeira partilha? A verdadeira atenção? O propósito de ouvir e querer fazer-se ouvir com conteúdo? Onde está o acréscimo de valor que nos trouxe tantas coisas boas e nos fez melhores? Onde é que a cadeia de acréscimos de valor se quebrou?
Há quem diga que é a falta de tempo... Eu digo que é falta de vontade.
Há quem diga que é a velocidade... Eu digo que é falta de saber abrandar.
Na realidade, perdeu-se a noção de que o esforço é necessário porque com jeitinho "ninguém quer saber" e as coisas andam mais rápido e consequentemente se gasta menos tempo. Lá está, a desvalorização tendo como base indiferença e a ideia de que somos meras unidades de produção substituíveis... Nada mais ridículo, é precisamente aqui que a cadeia se quebra.
Quebra-se, quando deixamos factores que nos são externos e incontroláveis tomar conta de nós porque na realidade só tem que existir compromisso (verdadeiro) para não deixarmos que a indiferença nos domine e com isso se alimente este ciclo vicioso de falta de humanismo.
A falsa ideia de não termos propósito e de só servirmos para produzir é nos incutida desde muito cedo fazendo crer que a falta de orientação é falta de propósito (dizem esses iluminados... "Pseudo Pastores"). Nada mais errado. O nosso propósito, somos todos nós enquanto por aqui andamos. É por esse propósito comum que devemos resistir e marcar a diferença todos os nossos dias.
Habitamos um espaço comum, respiramos o mesmo ar, biologicamente temos o mesmo fim, não percebo o porquê de existir uma estratificação discriminatória...
Estratificação terá sempre que existir, a parte discriminatória é que não!
Em que dia é que Poder passou a significar Amor?
Em que dia é que Poder passou a significar Partilha?
Em que dia é que Poder passou a significar Compaixão?
Em que dia é que Poder passou a significar Confiança?
Em dia é que Amor deixou de ser Poder?
Em que dia é que Amor deixou de ser Partilha?
Em que dia é que Amor deixou de ser Compaixão?
Em que dia é que Amor deixou de ser Confiança?
O que sei, é que há um Pastor que todos precisamos...
O Amor que todos temos dentro de nós mas que não deixamos que nos guie...
Experimentem de vez em quando,
É capaz de ser giro!

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